domingo, 29 de dezembro de 2013

SAIA DO MEU CAMINHO


Nós, os anônimos desgraçados por Nietzsche vivemos bem, obrigado. Preferimos andar sozinhos decidindo nossas vidas. Sabemos que isso é impossível, Belchior que o diga quando a saudade do anonimato tomou conta de sua alma. Talvez ele prefira ser um humano de verdade, um rapaz latino americano e sem dinheiro no bolso, sei lá. 

Talvez Belchior tenha se assustado com algumas coisas, talvez a indiferença social dos poderes políticos que preferem matar crianças de fome ou a ação enérgica politiqueira em lotar presídios com adultos que escaparam da fome na infância tenha-o deixado insano, sei lá. Talvez o nosso egoísmo não aceite a libertação do Belchior, afinal de contas não entendemos como pode alguém abrir mão do dinheiro. Se ao menos ele fosse um médico cubano poderíamos culpar o Fidel Castro. Mas não, isso é estranho, é insanidade, loucura, sacrilégio contra o deus dinheiro e a culpa é da mulher que o acompanha. Malditas mulheres, por causa delas fomos expulsos do paraíso. Agora, o misticismo bíblico se repete. Por causa da mulher Belchior negou ao Deus dinheiro e merece ser expulso do paraíso e de nossas orações.

Belchior viu muitas coisas, nós também, todos os dias. Nada pode nos surpreender. Nós já vimos ex-BBB bancando viagem de primeira classe para a sua cachorrinha; um tal de rei do camarote dando dicas fúteis, ensinando seres humanos a se tornarem fúteis para viverem subjugados em seu reino fútil; um adolescente virar ídolo aos 19 anos (saudades dos Beatles. “Depois deles não apareceu mais ninguém”) e anunciando a sua aposentadoria, infelizmente era uma pegadinha; um diretor de televisão afirmando ter atirado ovos em muita vagabunda (como são reconhecidas as nossas mulheres pela mídia) em São Paulo.

São tantas coisas erradas nos manipulando, tantas mãos sujas nos conduzindo, tantos caminhos tortuosos construídos para os nossos passos inseguros, que pensamos: “o tempo andou mexendo com a gente sim”. Por isso, hoje eu quero ser Belchior, eu quero decidir a minha vida. Se isso é loucura, enlouqueci.

(Ângelo Curcio)