Não
há comunismo no Brasil, nunca houve e não haverá. Devemos isso ao Governo Norte
Americano. Aliás, o primeiro líder político brasileiro suspeito de comunismo,
João Goulart, morreu ou ‘morreram’ ele no exílio antes que transformasse o
Brasil em uma nova União Soviética ou Cuba. Graças ao Presidente
Kennedy, viramos capitalistas. O Brasil não teve direito de exercer
a sua opção ideológica. Se isso foi bom ou ruim, nunca saberemos, até porque as
teorias defendendo um lado ou outro são infinitas e, felizmente não possuem
mais serventia no século XXI. Porém, ainda estamos carentes de democracia, de
garantia e exercício de Direitos Humanos. O radicalismo ideológico não quer
dialogar e isso é terrível para a vida social. Neste pequeno ensaio procuro
demonstrar que o radicalismo autoritário é um fenômeno histórico e ainda
perdura nos corações e nas mentes humanas.
Antes
do golpe militar de 1964, o Brasil crescia com saúde juvenil. Os índices de
crescimento marcavam 11% ao ano, números nunca mais atingidos, era um tempo
dourado; era o tempo da bossa nova e de seus poetas, tempo do futebol romântico
jogado pelo amor ao distintivo do clube que se defendia, imune aos gananciosos
empresários. Era 31 de janeiro de 1956 quando Juscelino Kubitschek assumia a
presidência do Brasil tendo como vice João Goulart, conhecido popularmente como
"Jango". Jango se elegeu com 500 mil votos a mais que Juscelino
(naquela época os dois cargos eram escolhidos separadamente) e Brasília, a nova
capital brasileira, era reconhecida como a capital da esperança, que ironia.
O
MENSALÃO
No
ano de 1960, Jango é reeleito como vice-presidente. Dessa vez o Presidente era Janio
Quadros, o famoso ‘homem da vassoura’ - que a usaria para acabar com a
corrupção – preocupado em limpar a política brasileira. Ele foi eleito com 48%
dos votos e, estranhamente, em 21 de agosto de 1961, oito meses depois da
posse, renunciou ao cargo deixando-o vago para que o seu vice, Jango, assumisse.
Ele assumiu a Presidência do Brasil de forma tumultuada após lutar contra uma
poderosa oposição política patrocinada pelo mensalão do “Tio Sam”. Com esse
cenário político, ele não conseguiu governar e no dia 1º de abril de 1964
sofremos um golpe militar que perdurou por vinte anos. Os opositores foram
perseguidos, presos, exilados; alguns foram torturados e mortos. O Estado passa
a devorar seus opositores de forma radical, Jango é expulso do país e fica
exilado no Uruguai.
As
atrocidades cometidas pelo Estado, por intermédio de seus agentes, aconteceram consubstanciadas
na “Doutrina da Segurança Nacional”, aos moldes da nobilitante frase do General
Carlos Guedes: “nós devemos amar a Deus e
se não amamos a Deus, devemos temer a Deus. De modo que àqueles que não amam a
Revolução ou a situação que foi imposta, pelo menos devem temê-la”. Em seu radicalismo
ideológico Guedes já demonstrava a iniciação de uma nova época: a época da
legitimidade do medo, era preciso assustar os inconformados com o novo Estado.
Jango
foi golpeado pelos militares e pelos mensaleiros que o rotularam de comunista por
ele ter ido a China assinar um acordo comercial. Para os cérebros da época
Jango estava errado. A China não era bom lugar para fazer negócios. Hoje,
passados 52 anos, todos os países do mundo querem negociar com a China. O radicalismo
vitimou Jango, deixou o Brasil mais pobre e mais atrasado. A história mundial nos
demonstra que o radicalismo de nada serve. Inúmeros seres humanos foram e
continuam sendo vitimados pelo radicalismo, o recente atentado em Nairóbi, tomado por um grupo radical comprova isso.
OS DONOS DA VERDADE
Não existe uma verdade absoluta. Como bem definiu Zaffaroni,
existem várias partes de uma verdade e nenhuma deve prevalecer sobre a outra.
Por isso é complicado viver em uma democracia quando não aceitamos as
diferenças, os dissensos. É complicado viver uma democracia quando acreditamos
ainda que a maioria é a voz da razão. É complicado viver uma democracia quando não
ouvimos as minorias. É complicado viver uma democracia quando não garantimos o
exercício dos Direitos Humanos.
Quantas vidas ainda perecerão em nome do radicalismo
religioso ignóbil que justifica suas atrocidades em uma falsa interpretação do
desejo divino (independente de religião) que só quer o bem das espécies? Quantos
homens sofrerão com as dores lancinantes dos grilhões da escravidão social em
nome do radicalismo politiqueiro que não se importa com a falta de políticas do
“bem estar social” omitidas pelo excesso de políticos inescrupulosos e
psicopatas que se apropriam do bem público? Infelizmente, não sei. Aos radicais
peço-lhes o bom senso e respeito às diferenças; aos Direitos Humanos rogo-lhes:
prevaleçam, sempre prevaleçam, principalmente aos mais necessitados de ti.
Parabéns ao STF pelo deferimento dos Embargos Infringentes.